CAMPO ERÊ

          A descoberta dos Campos do Erê é anterior ao nascimento de Clevelândia, inicialmente denominada Bela Vista, ou Boa Vista e também Palmas de Baixo, que se originou de um desvio aberto a oeste da Estrada das Missões, por tropeiros que desejavam encurtar o caminho desde o Rio Grande do Sul a Guarapuava.

          A abertura da Estrada das Missões deu-se entre os anos de 1846 a 1848. Nesta épocajá estavam sendo ocupados os campos do Erê, situados no espigão que divide as bacias do Iguaçú e Uruguai.

          Evidentemente, poderia haver ocupação de alguns campos no atual município de Clevelândia, já em 1840, devido à sua proximidade com Palmas e mesmo com Guarapuava. Mas não agrupamento de moradores, como no inicio de futura povoação, fato que somente veio acontecer após a abertura da histórica Estrada das Missões.

          Nos Campos do Erê, as informações são  mais precisas. Historiadores abalizados referem que havia ali fazendas de gado já nos anos de 1838/1840.

          Seus primeiros moradores ou criadores de gado deveriam ser, provavelmente, de Guarapuava que foi o ponto de partida de toda ocupação, penetração e colonização do Oeste de Santa Catarina e do Paraná.

          Os Campos do Erê ocalizavam-se no extremo oeste da rota de penetração Palmas-Barracão. Seria necessário alcançá-los, em função do próprio impulso desbravador que se originara de Guarapuava nos anos 1809 e 1819, e se expandira até Palmas no anos seguintes.

          A existência de campos sem fim convidava o homem, fazendeiro e criador de gado a um avanço permanente. Seria detido somente pela mata impenetrável.

          Partindo de Guarapuava, os primeiros desbravadores ocuparam um campo após o outro: o de Palmas, Clevelândia, Abelardo Luz, Xanxerê. O último no extremo oeste, a 70 quilômetros da fronteira com a Argentina, seria o Campo do Erê, cercado por larga faixa de matas, algumas soberbas outras finas. Era um campo pequeno, que os índios caigangues denominavam “herê”. Os colonos brancos iam ao campo; os índios ao “herê”, na sua língua. Daí o pleonasmo Campo Erê, que significa “campo-campo”. Essa a origem do nome, que  não deixa de fazer sentido, pois se trata de um campo de pouca extensão, perdido no meio das matas e terrenos dobrados, uma raridade da natureza.

          Os primeiros desbravadores do Oeste de Santa Catarina e do Oeste do Paraná foram criadores de gado. A atividade econômica dominante não poderia ser outra, porque os campos a vista, abertos, escancarados são o habitat natural do gado. A atividade pastoril permite a sobrevivência  do homem com pouco esforço. Não requer muita mão-de-obra. Em contra-partida, as terras de campo não são férteis para lavoura. A agricultura somente poderia se desenvolver em terras de mato. As circunstâncias da época não aconselhavam o desenvolvimento da lavoura, porque seria dificil a comunicação com áreas de matos. A colônia se tornaria “filha adotiva dos cofres públicos”.

          Por isso as matas do sul do Brasil ficaram incólumes até o século XX. As maiores densidades se concentravam no Sudoeste do Paraná e no Oeste de Santa Catarina, na fronteira com a República Argentina, entre o Rio Uruguai e o Rio Iguaçú.

          Da mesma forma que as matas dessa região serviram de barreira ao avanço dos portugueses e brasileiros em direção ao Oeste, também serviram de obstáculos ao avanço dos espanhóis confinantes rumo ao Leste. Também os espenhóis e argentinos quedaram-se ante as imensas florestas que se erguiam em grandes espaços na margem do Rio Peperi-Guaçú e do Rio Santo Antônio, no lado brasileiro.

          Bem mais alto do que as ambições territoriais de brasileiros e argentinos, ou portugueses e espanhóis, falou a topografia do solo. Não foi por falta de índios domesticados que os espanhóis deixaram de ultrapassar os Rios Peperi-Guaçú e Rio Santo Antônio. Deles havia mais de 100 mil, desde Guayra ao Rio Grande do Sul, ainda em 1600, catequizados pelos jesuítas espanhóis e fixados ao longo da atual fronteira Brasil-Argentina. Nem por falta de audácia dos colonizadores castelhanos da Bacia do Prata.

          Nessa linha fronteiriça não se verificou fato positivo que mostrasse intenções de os espanhóis ou argentinos de avançarem em direção a Leste, penetrando em território brasileiro.

          Tão pouco os índios catequizados ou domesticados pelos brasileiros constituíram fator decisivo do avanço guarapuavano, palmense, ou clevelandense rumo a oeste, até o último campo – o de Campo Erê. O número desses índios não passava de 2 mil.

          Decisivo na ocupação dessa área pelo homem fio o condicionamento geográfico, que determina a ação humana, regra válida tanto para os conquistadores castelhanos como brasileiros.

          Contudo é muito antiga a presença do homem civilizado em Campo Erê. Por aí passaram os bandeirantes paulistas, nos séculos XVII e XVIII, quando de suas incursões contra as missões jesuíticas localizadas no atual Rio Grande do Sul. Ainda existem vestígios dessa passagem, os famosos “muros”, mencionados por muitos historiadores.