CLEVELÂNDIA

           A estrada de Palmas a Nonohay, aberta em 1846 por Francisco Rocha Loures, auxiliado pelo cacique Condá, tornou-se logo o eixo colonizador mais importante do Oeste de Santa Catarina e do Sudoeste do Paraná. Essa estrada, inicialmente simples “picada“, encurtou consideravelmente o caminho das tropas de mulas ou de gado, procedentes dos campos do oeste e noroeste do Rio Grande do Sul, e que eram levadas para os mercados paulistas, especialmente o de Sorocaba. Tropas mesmo originárias da Argentina seguiam essa rota. Vinham de Corrientes, atravessavam o Rio Uruguai na altura de São Borja ou Santa Maria, passavam por Cruz Alta, Passo Fundo, fazendo novamente a travessia do Rio Uruguai, no passo do Goio-En, demandando a Palmas, Guarapuava e, finalmente, São Paulo.

          Os tropeiros que faziam esse percurso acabaram por descobrir um atalho, 37 quilômetros a oeste de Palmas, que encurtava a estrada rumo a Guarapuava mais de 70 quilômetros.

          Esse desvio deixou Palmas fora do maior movimento das tropas, ameaçando sua existência, e fez nascer uma nova povoação, no local onde hoje se situa a cidade de Clevelândia.

          Os tropeiros começaram a exigir do governo provincial que a sede da povoação fosse transferida para local mais apropriado, ou seja, às margens da Estrada Geral, também conhecida por Estrada das Missões, contrariando os interesses dos fazendeiros e comerciantes de Palmas, que se opunham a tal projeto.

          Entretanto, a Lei Provincial nº 22, de 28 de fevereiro de 1855, determinava a transferência da sede da vila, medida que não chegou a se concretizar, tendo essa lei sido derrogada em 1861.

          Foram sugeridos outros pontos ainda para sede da povoação, mas sem resultado.

          Em 1870, a vila de Palmas, que esteve na eminência de se despovoar e desaparecer, já estava consolidada, retomando, a partir de então, alento definitivo.

          Apesar disso, nesse mesmo ano, a Câmara Municipal de Guarapuava, referindo-se aos primeiros moradores de Clevelândia, informava que “parte dos povos daquele lugar, cansados de esperar pela execução da lei, por meio de uma contribuição, compraram uma parte dos campos e matos no Chopim, no lugar denominado Boa Vista, onde marcaram o lugar para uma povoação junto a Estrada das Missões, no qual já existiam alguns moradores”.

          Boa Vista também se chamava Bela Vista de Palmas, Palmas do Sul e Palmas de Baixo, dando-se à vila propriamente de Palmas a denominação de Palmas de Cima. Já tinha moradores, por volta de 1846. Caso contrário não se explicaria a Lei Provincial de 1855, que determinava a transferência da sede da vila para Boa Vista, junto à Estrada das Missões.

          Joaquim Antonio Moraes Dutra, considerado um dos primeiros moradores da vila, em documento de 1869, informa que Boa Vista começou a ser povoada entre os anos de 1844 a 1856, por sere proprietários, entre os quais se menciona Frederico de Mascarenhas Camello, que se tornou personagem importante na história do Oeste Catarinense, como comerciante de erva-mate.

          Ele mandou contruir ne Nonoai embarcações para descer o Rio Uruguai, carregando erva-mate até o passo de São Borja, partindo geralmente do passo do Goio-En. Em 1860 transportou 600 arrobas e, em 1862, 1500 arrobas, fato que comprovava ser a erva-mate, nessa época, um dos principais produtos da região.

          Autoridades policiais de Guarapuava calculavam essa produção em torno de 20 a 30 mil arrobas, pelo ano de 1863.

          Em recompensa pela façanha de navegar o Rio Uruguai, Frederico Mascarenhas Camello obteve do Governo Paranaense a concessão da exploração do serviço de canoas no passo do Goio-En, onde, também passavam as tropas de mulas que saíam do Rio Grande do Sul e da Argentina, rumo a São Paulo. A existência de um serviço regular de canoagem, porto de embarcação de erva-mate e passagem de tropas tornaram o passo Goio-En “importante centro comercial” para os padrões da época. Em 1862 sua população era estimada em 400 a 500 pessoas.

          Enquanto os colonizadores de Boa Vista se expandiam nas direções Sul e Oeste, Palmas completava suas comunicações com o Norte e Leste, abrindo picadas novas ou alargando velhos carreiros dos tempos dos primeiros colonizadores, nas direções de Porto União, Triunfo e Palmeira.

          Boa Vista, entretanto, subistituiu Palmas como centro de apoio à colonização do oeste de Santa Catarina e do sudoeste do Paraná. Emancipou-se em 1892, separando-se de Palmas, denominando-se Bela Vista, sendo rebatizada com o nome de Clevelândia, em 1909, em homenagem ao Presidente Cleveland, o árbitro da questão de Limites das Missões, entre Brasil e Argentina, resolvida em 1895.